Ontem, em homenagem ao mês das mulheres, fui convidada a
participar como palestrante do Encontro Regional de Mulheres promovido pela
APEOSP – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo,
subsede São Miguel / Itaim Paulista, que teve como tema “A Luta Contra a
Violência Machista e o Assédio Moral”.
Iniciei contando um pouco sobre a minha história de
vida e das dificuldades, assédios e violências sofridas pelas mulheres, em
especial pela violência que nós lésbicas sofremos em decorrência do machismo, onde
a lesbofobia vão desde o assédio moral, agressões físicas, violência sexual e até
a morte.
Muitas lésbicas são estupradas por grupos de homens machistas
muitas vezes por intermédio de pessoas conhecidas, membros da própria família (pai
e irmãos), por líderes religiosos com ou sem o conhecimento da família. Estes últimos
usam o nome de Deus para cometer estes crimes, alegando santidade e o remédio/corretivo/tratamento
para a suposta “cura gay”, quando na verdade são criminosos e desumanos.
Sem mencionar as mulheres que são humilhadas em seus empregos por serem mães solteiras, por preconceito racial ou religião por elas escolhidas, desrespeitando seus direitos de liberdade e livre escolha.
Sem mencionar as mulheres que são humilhadas em seus empregos por serem mães solteiras, por preconceito racial ou religião por elas escolhidas, desrespeitando seus direitos de liberdade e livre escolha.
Sabemos que isto também ocorre nos coletivos públicos e
que nenhuma mulher sendo ela lésbica ou não está livre de passar por qualquer
tipo de violência, mas infelizmente também estamos cientes que apesar das
denuncias terem aumentado por trás de toda sensação de “amparo da lei” muitas brasileiras
ainda se mantém em silêncio, seja por vergonha ou por medo não vão até a delegacia
denunciar as agressões sofridas, pois temem também sofrerem humilhações ao
relatar que foram violentadas – e não são raras às vezes em que são
hostilizadas nas próprias delegacias.
Com tantos homens matando mulheres na mais pura retratação
de machismo (e que continua sendo repassada para as crianças como se fosse herança),
mesmo com a Lei Maria da Penha o governo ainda não possui estrutura suficiente de
delegacias especializadas nos municípios, abrigos ou outros órgãos para assistência
e amparo às mulheres e penitenciárias suficientes para os agressores.
Infelizmente, os crimes contra mulheres no país têm aumentado cada vez mais e não
é difícil assistir, ler ou ouvir a notícia de que uma mulher foi perseguida, espancada
ou morta pelo próprio cônjuge, namorado ou familiares - inclusive muitos casos
ocorrem após várias denúncias da vítima.
A verdade é que com tanta falta de estrutura, a sensação
de proteção fica à sombra da impunidade.
Com a cadeira demonstrei um gesto que acontece todos os
dias nos transportes públicos quando alguns homens se sentam nos bancos dos ônibus,
trens, metrô ou em qualquer outro lugar em que dividem o banco com outras
pessoas... Atire o primeiro teclado quem nunca presenciou a cena de um homem
que ao sentar abre as pernas ocupando além do espaço necessário (como se
estivesse com algum problema escrotal) e a mulher que se senta ao lado fica ali,
oprimida em um espaço mínimo e apertada. Um gesto “banal”, mas que coloca em
evidência o machismo e o seu poder de subjulgar a mulher.
Sei que nesse exato momento alguns pensaram: “Nosso
quanto exagero!” ou até mesmo “Tinha que ser sapatão”... Mas caia na realidade
e imagine sua mãe nesta situação.
Enfatizei aos professores e pais presentes que todos
esses tipos de discriminações e violências contra as mulheres e LGBTs são
reflexos de uma educação familiar baseada em machismo e preconceitos, onde os pais
não ensinam aos filhos a importância do ato respeitar as mulheres e as
diferenças.
A educação precisa começar e vir de casa, pois a escola
é um instrumento de ensino das disciplinas escolares onde cabe o incentivo de
respeito mútuo e campanhas de erradicação de preconceitos, não a
responsabilidade da formação de caráter das crianças, professores não são “pais
substitutos”. Cabe aos pais a responsabilidade de ensinar aos seus filhos os
valores e respeito com os demais para a formação de caráter, pois só assim
poderemos atingir a sonhada meta da diminuição de toda violência que todos os
brasileiros estão à mercê e que as mulheres, LGBTs, negros, deficientes e
idosos sofrem diariamente.
Acompanhei as colegas da mesa em suas oratórias e a
professoras que se dispuseram em compartilhar suas experiências e dificuldades,
ampliando e contribuindo de forma construtiva à reflexão do tema, que de tão
extenso e por tamanha delicadeza e vulnerabilidade ainda percorre por
labirintos à procura das mais diversas soluções.
Por ter outro compromisso pedi licença para me retirar e
solicitei mais uma vez a palavra. Levantei
e sugeri que todos se levantassem comigo para aplaudir de pé a todas as
mulheres presentes e disse à minha esposa que a amo.
Hoje é dia 8 de março, dia internacional da mulher, mas
peço que lembrem que todos os dias são delas, são nossos, pois não há um dia em
que somos menos. Somos a cada dia mais, cada vez mais, mais amor, mais experientes,
mais guerreiras, mais sábias e a cada dia nos tornamos mais fortes.
E mesmo que a violência e opressão sofridas ainda persistam
como a maior lembrança para este dia, tenha a certeza de que por mim estas
lembranças serão como um dia nebuloso, mas com possibilidade de sol e de luz na
vida de todas as guerreiras que somos. Viva a Mulher em toda sua plenitude!
Gosto tanto de mulher que casei com uma! =)
Basta de violência. Nossa voz não pode calar.
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