No domingo, dia 22 de dezembro de 2013, fui convidada para ir em
uma saída de santo em um terreiro de candomblé em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo capital,
na casa do Dofono de Ogun, um amigo e
sua família que tive o prazer de conhecer há algum tempo atrás e a vida me deu
de presente.
Fiquei fascinada
pelo respeito, a cordialidade e a disciplina que habitava local naquele momento
sagrado.
Lembrei da minha infância, da minha mãe. Lembro bem
quando minha mãe fez o santo no candomblé no ano de 1972, fez
todos os preceitos certos conforme a doutrina do candomblé, mas com o tempo,
por não suportar as regras, as exigências da religião, e por culpar a religião
pelo seu próprio fracasso pessoal familiar, abandonou tudo e virou ‘crente’
(não tenho nada contra e quero deixar isso bem claro aqui), mas durante todos
esses anos pude perceber que a maioria dos crentes fanáticos, em sua maioria
grandes praticantes de homofobia e intolerância religiosa já foram antes católicos ou espíritas, seja da umbanda,
candomblé, quibanda ou Allan Kardec...
O que me deixou intrigada foi que algumas pessoas quando
souberam que eu iria numa saída de santo me criticaram e o mais engraçado perdi
até uma “amizade”, que pelo andar da carruagem que não era sincera. Nesta vida,
cada ser humano carrega em seu intimo magoas e traumas que com o tempo a vida
acalma, mas eu sou espírita, sempre fui, e não ligo para certos tipos de
comentários de pessoas que não deveriam nem ter certos tipos de preconceitos,
já que sofrem de discriminação todos os dias também.
Há vários anos atrás algumas pessoas já falavam guerras
religiosas, inclusive eu, mas ainda assim fico pasma com o que vem acontecendo
em São Paulo, no Rio de Janeiro, na Bahia e em outros estados, tantos espíritas
sendo caçados e expulsos de suas casas.
Coincidência ou não, como em todas as religiões, muitos
são LGBTT.
Já tem político querendo mexer na cultura africana e já
anda sobrando até para o pobre do bolinho acarajé.
Alguns políticos da bancada evangélica que não possuem
nada melhor para fazer querem mudar o nome do acarajé, alegando que o nome
remete a religião do candomblé porque as bahianas ficam tipicamente vestidas.
Meu Deus, quanta ignorância e quanta falta de vontade de procurar o que fazer
num país que já sofre com tanta injustiça social!
Com tantos brasileiros morrendo de fome, sem casas para
morar, sem acesso a escola...
Queria ver essa cambada de políticos inúteis irem até os
hospitais estaduais, municipais e federal. Tem tanto para se fazer por lá,
pelos funcionários sempre sucateados, verdadeiros profissionais zumbis sem
estrutura nenhuma para trabalhar e pelos paciêntes que ficam esquecidos e
jogados nos corredores sem atendimento e tratamento adequados.
Acabar com as filas, criar leis verdadeiras que ajudem realmente aqueles
que lhes deram a confiança do voto e trabalhar pela e não contra a sociedade
durante estes últimos 3 anos ficou bem claro que esses políticos não querem.
Lamentável que estes políticos usem seus mandatos para caçar outros brasileiros
em nome de um fanatismo religioso e uma moralidade fictícia!
Darei como exemplo o que houve com uma amiga dia 31 de
dezembro 2013. Ela me contou que estava defumando a casa dela, quando uma
mulher passou na rua e sentindo o cheiro do defumador começou a gritar “Macumbeiro
dos Infernos! É aqui que mora os macumbeiros dos infernos, gente! Venham ver!”
Ridículo, não é? Mas isto todos já sabem que infelizmente é só o começo de uma
guerra absurda.
Nos anos 80, morei no Rio de Janeiro em uma casa de
candomblé por um tempo, pois não tinha onde morar e fui acolhida lá, onde passei
dois anos da minha vida e pude ver com meus próprios olhos o quanto eles ajudam
as pessoas sim e não vieram das profundezas do inferno, como gostariam alguns.
Me emocionei muito ao ver a saída de santo na casa do
Dofono e agradeço o convite do amigo.
O que vi foi uma festa linda!
Todas as religiões fazem suas festas e eu sempre que sou
convidada compareço, seja lá qual for a religião. Um local onde se fala o nome
de Deus, independente de religião e serve como prato principal a sabedoria, o
respeito e de sobremesa a doutrina divina, para mim já é de tudo maravilhoso.
Por que falei em guerra religiosa?
No dia 20 de novembro de 2013, estive na I Reunião De Trabalho - Sociedade Civil e Ministério Público De São Paulo: Grupo De Trabalho Intolerância - Discriminação Étnico-Racial.,onde um dos participantes dos representantes religiosos abordou o
assunto da intolerância religiosa, dá uma lida nesse link acima e entenda melhor o
que está acontecendo com as religiões umbanda, candomblé e quibanda.
Mais um ano acaba de iniciar e independente de religião
temos que nos unir para não perder o o nosso estado Laico, não perder o direito
de poder expressar nossa crenças, mesmo porque já existem igrejas LGBTT evangélicas
e é uma tristeza que estas ainda sejam desprezadas entre os próprios
evangélicos. E eu me pergunto, onde está o amor ao próximo?
Temo que se perdermos o estado Laico até os LGBTT
evangélicos, alguns com a ilusão de “proteção, poderão perder o direito de irem
aos seus cultos e /ou serão submetidos a exorcismos para expulsar o demônio do
homossexualismo de dentro deles (sim, por que não? Absurdo por absurdo, se as
pessoas não abrirem os olhos, vejo este como o mais próximo da realidade).
Verdade seja dita, conheço pastores evangélicos,
representantes de grandes igrejas, que não concordam com as atitudes de outros
evangélicos que não respeitam a vida e a religião alheia e admiro a postura
destes.
Bem, de qualquer forma, perseguir alguém por amar uma religião
ou porque ela não condiz com religião escolhida por nós é indigno de qualquer
ser.
Quem tem fanatismo desenfreado tem sempre um passado
beeem extenso para ocultar.
Espero que em 2014 as pessoas lutem mais por este direito
de escolher e praticar suas religiões sem se esconder, pois para quem tem fé a
vida nunca tem fim!
Salve todas religiões! Salve quem tem PAZ no coração!
#Cecilia Bezerra #RESPEITOGAY #EstadoLaico
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