O ato por justiça e criminalização da homofobia estava previsto para ter início às 18:30, no Largo
do Arouche, mas por conta da chuva São Paulo vira um caos, sai o calorão e ganhamos ruas inundadas, o transporte
público consegue ficar ainda pior e os usuários ficam a mercê da sorte.
Fui convidada pelos organizadores à participar do ato e
tive a ideia de criar a petição online, pois sei que as manifestações de ruas
marcam a mente da população, mas as nossas autoridades como sempre possuem a
memória que convém e esquecem de tudo minutos depois ou dizem “eu não sabia/eu
não vi”. Bem um documento protocolado não tem como as pessoas esquecerem ao
serem cobradas. Sendo assim, é bom ter um registro como prova do nosso pedido.
Sei que vários órgãos que representam a população LGBTT
por parte do governo estadual e federal ligados aos direitos humanos enviaram seus
representantes para acompanhar as investigações da morte de Kaique Augusto, já
que o delegado responsável citou que o caso seria um ‘suposto suicídio’. Mas
como brasileira e integrante da comunidade LGBTT não poderia deixar de
registrar um abaixo assinado, mostrando às autoridades a revolta da comunidade
civil LGBTT, pois a morte deste adolescente só reascendeu o pavio de uma
revolta crescente a cada ano, a cada LGBTT assassinado e invisível aos olhos da
sociedade, vítimas que de tão desprezadas pelas autoridades, sofrem cada vez
mais abusos e são mortas sendo ignoradas pela sociedade, como se nunca tivessem
existido. Digo isto porque mesmo sabendo que no caso do Kaique Augusto as
investigações continuam sendo feitas e que embora as evidências apontem para um
crime brutal por motivação homofóbica, as autoridades ainda suspeitam e falam
de suicídio.
Quantos LGBTTs morrem brutalmente assassinados, sem
respostas nenhuma das autoridades do nosso páis?
As transexuais e travestis são os alvos preferidos dos
ataques e da violência desenfreada e nada se faz, pois nossas leis não são
feitas para proteger a população brasileira, nossas leis são feitas para
proteger os infratores ou nos são negados os direitos de todos, de tê-las para nos proteger , proteger uma
população que vive jogada no descaso das autoridades e políticos, como ocorreu
com a PLC122 mês passado, por fatores até religiosos que são barganhados em ano
de eleitoral pelos representantes (mau) escolhidos pelo povo e que são
economicamente beneficiados, onde partidos políticos só dão legendas aos pobres
para fazerem seus coeficientes e os candidatos escolhidos já retém o poder de
campanhas milionárias.
Este ato refletiu a revolta de todos, contra tantos ataques
e mortes que acontecem nas ruas desse país e são esquecidos sem esclarecimentos
de nossas autoridades policiais.
Lembrei de um fato que ocorreu em 1972 na escola em que
eu estava na época, os lgbtts da escola se reuniam isoladamente nos banheiros e
ruas nas proximidades da escola. Falávamos sempre baixinho para que ninguém
percebesse que estávamos lá. Eu tinha 12 anos e graças as surras que levava do
meu pai, com tantos hematomas pelo corpo eu era conhecida como “a roxinha
invocada”, neste ano eu estudava no período da tarde, lá havia um garoto gay que
durante o dia para que a família não desconfiasse namorava com uma garota e nos
períodos que conseguia se esconder namorava com um outro amigo meu.
Um dia numa brincadeira no portão, sem querer este meu amigo
gay esbarrou com um outro garoto e isso gerou um empurra-empurra, pois rapaz que
se sentiu ofendido com o esbarrão e começou a gritar “Bichinha, pensa que todos
não sabem que você é viadinho e este grupo que você anda é de viado e mulher homem?
Vai querer encarar? Não adianta querer namorar com uma menina e depois dar a
bunda pro outro viadinho aí!”
A discussão foi aumentando a cada minuto e meu amigo cada
vez mais pálido sem saber o que fazer, pois o outro garoto era maior que ele e
ainda tinha o apoio de outros adolescentes da escola. Eu tentei tirar ele do
meio da confusão, mas não consegui. Foi aí que notamos que o garoto valentão
sacou um canivete e introduziu três vezes no abdomem do nosso amigo. Eu perdi o
chão. Nosso amigo cambaleou e disse “ele
me acertou” quando olhei meu avental estava espirrado de sangue e todos que
estavam a nossa volta incentivando a briga correram gritando e o garoto que
feriu nosso amigo fugiu no meio do tumulto protegido por vários amigos e pela
própria diretoria da escola. Meu amigo faleceu alí, em nossa frente, numa
escola da zona leste. Depois os militares chegaram e levaram o corpo dizendo
que ele ainda estava vivo, mas todos sabiam que não era verdade.
Passado alguns dias, soubemos que o assassino estava livre
e ficamos sabendo depois que seu pai era um militar do exército. Acho que passados uns seis meses o agressor voltou
a frequentar a escola carregando sempre uma bíblia dizendo aos quatro ventos que
“estava arrependido, que já havia pedido o perdão a Deus e que Deus havia
compreendido, pois ele tinha matado um pecador, um viado, um homem mulher e que
ele tinha feito um bem às famílias, já que ninguém mais iria ver aquela aberração.”
Todos os estudantes foram proibidos de tocar no assunto
na escola e quem falasse tinha que se entender com a diretoria, correndo o
risco de ganhar uma expulsão da escola e de brinde a família ainda poderia
sofrer ameaças do exército. Todos se calaram e nós os LGBTTs chorávamos escondidos
como criminosos.
Lembrei dessa tragédia durante todo o ato, pois mais uma
vez tentaram abafar mais um caso e silenciar a nossa voz.
Quando eu gritava na rua durante o ato para os
manifestantes e nos sentávamos no meio das avenidas onde depois eu gritava “levanta”, era
um grito de desabafo por tantas mortes que aconteceram desde os anos 70 até
agora. Por todas as transexuais, travestis, gays, lésbicas e bissexuais..., eu gritava por cada um de nós, assim como
todos que estavam alí.
Juntos gritávamos contra a injustiça que assola este
nosso Brasil, contra a caça que nossa comunidade sofre nas ruas, pois não canso
de dizer que LEILOARAM A PLC122 em troca de apoio político Evangelico e com
isso colocaram carrascos em nosso encalço.
Hoje estão começando por nós, com os espíritas pelo que
se comenta já começaram também, depois serão os católicos, os negros, deficientes
físicos, os menos favorecidos economicamente, os moradores de ruas e favelas,
enfim as classes erroneamente intituladas como “minorias”. Quem são? Nós que somos lembrados somente em épocas de
eleições, porque somos números de votos, mas logo em seguida somos esquecidos
por nossas autoridades!
Os partidos políticos estão dividindo nossa comunidade LGBTT
e se continuar assim vamos apenas ser um coeficiente deles, ou seja, usados
mais uma vez.
Agora é o momento da união e não de EGOS INFLAMADOS PELO NARCISISMO.
VOTEM EM QUEM TEM
TRABALHO SOCIAL HÁ ANOS e o mais importante pesquise antes de votar. Isso vale
para todas as comunidades.
Volto a repetir, nosso estado laico está correndo perigo.
E não adianta dizer “sou LGBTT, mas sou evangélico”, não se enganem, pois se o
estado laico cair estes cairão juntos também. Abram os olhos!
GAYS, LÉSBICAS, BISSEXUAIS, TRANSEXUAIS E TRAVESTIS, NÃO
TEMOS DO QUE NOS ENVERGONHAR A HORA É AGORA:
LEVANTA!
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