Hoje, dia
10/08/2013 é dia da Enfermeira (o). Profissão que fiz parte do quadro de
profissionais da área. Tenho orgulho em dizer que durante 23 anos foi minha
profissão!
Mesmo
atuando juntamente na política por todos estes anos, sempre briguei muito pela
classe como um todo.
Fiz parte da
comissão de funcionários de alguns hospitais onde trabalhei lutando pelos
direitos dos funcionários e conquistei muitos amigos os quais alguns mantenho
contato até hoje e de outros guardo recordações boas, outras tristes, outros
que já partiram deste mundo...
Uma das
recordações que me emociono muito foi em 2003, quando eu trabalhava no período
noturno em um hospital municipal da zona leste. Até aquela época, boca dura que
eu sempre fui, trabalhava em quatro setores em uma noite só: Central
de Material, Centro Cirúrgico, Centro Obstétrico e sala de Emergência do PS.
A
enfermagem para quem não sabe tem ainda três divisões de profissionais: Enfermeira
(o), Técnica (o) de Enfermagem e o Auxiliar de Enfermagem.
Este hospital
que citei da zona leste era e continua sendo muito solicitado pela população da
região, então neste hospital entram muitos casos de ferimento de arma de fogo,
arma branca, queimados, vítimas de acidentes de qualquer tipo, entre outros,
até 2004 podia-se dizer que era o típico hospital de guerra. Eu sempre começava
meu plantão pegando o serviço na sala de emergência e ia seguindo aos
outros setores, pois na sala de emergência com 12 leitos a teoria é que ficavam
três funcionárias, na teoria... Na prática
éramos sempre duas e tinha rezar para que ninguém faltasse ao plantão. Não cito
nomes para não deixar as (os) colegas constrangidas (os), principalmente uma
das enfermeiras encarregada dos setores que me tratava muito mal, era com
uma raiva e eu não sei por que, mas mesmo assim aprendi a gostar dela
mesmo ela sendo homofóbica, lesbofóbica, transfóbica entre outras coisas. No
meio de tanta ignorância, lá no fundo ela tinha também um lado humano e quando
aprendeu a me ver com outros olhos passou a me respeitar e a me escravizar menos.
Quero ressaltar aqui que eu nem tive um caso com ela, hein! kkkkk
Em uma dessas noites
chegou um paciente com quem aprendi muito da minha vida espiritual, o Sr.
Honório.
Ele deu entrada no hospital com parada cárdio
respiratória. O Sr. Honório já havia feito várias cirurgias no coração e não me
recordo ao certo se ele estava na fila para transplante esperando por um
doador.
Como
passou mal e o hospital onde o Sr. Honório fazia tratamento ainda não tinha uma
vaga de leito disponível ele ficou ali. Lembro que ele tinha medo de dormir e
morrer dormindo, riamos juntos dessa história, contei toda minha vida àquele
homem de 72 anos e ele me contou a dele.
Os
médicos me diziam que o quadro dele já era fechado, pois doadores eram difíceis.
Então fomos nos tornando cada dia mais amigos... Um dia cheguei para trabalhar
e os nove filhos dele, sim nove filhos, estavam lá, me abraçaram me agradeceram
o carinho e o afeto que eu tinha com o Sr. Honório assim como também com os
outros pacientes, mas o Sr. Honório era especial...
Dois dias
depois, após uma hora de plantão o Sr. Honório teve a primeira parada cardio respiratório.
Fiquei aflita e junto com a equipe conseguimos reverter o quadro que era
incrível, pois o Sr. Honório voltava falando, durante os sete episódios. No
oitavo e ultimo abriu seus olhos azuis, me olhou e disse “Filha, não me chame
mais, estava num jardim lindo com os meus pais, irmãos e alguns amigos me
recepcionando e só volto quando você me chama.” a equipe ficou perplexa, os
dois médicos me olharam com espanto e o Sr.Honório continuou a falar “Cecilia,
sei do seu sofrimento, mas acredite em Deus e em outra vida, continue a ajudar
as pessoas como você faz sem olhar a quem, que todos os bons espíritos estão do
seu lado, e eu minha filha, Deus me deu a oportunidade de te conhecer antes de
eu fechar os olhos, estarei lá também te esperando quando for o seu dia da
passagem.. sua missão esta apenas na metade. Não me chame mais, hein.” Respondi
com um simples “está bem” e o Sr. Honório teve a sua ultima parada. Depois
disso, mesmo com várias tentativas ele não voltou mais. Eu chorei muito aquela
noite, no dia seguinte quando meu plantão terminou, dirigi até minha casa com
uma dor imensa no peito.
Passaram
alguns dias e recebi uma visita numa noite de plantão. Era a filha caçula do Sr.Honório,
que me abraçou forte e me deu uma caixinha com um brinco lindo, ela disse que
seu pai pediu que ela comprasse para mim, mas deixou claro a ela dizendo “quero
que o brinco seja deste que homem também use e diga a Cecilia, minha filha que
sempre estarei com ela e que é para ela continuar ajudando as pessoas mesmo com
a ingratidão de alguns.
Bem Sr.
Honório, continuo ajudando as pessoas e cá para nós, os hospitais públicos
estão ficando cada vez piores, assim como algumas pessoas também...
Esta profissão,
embora louca e também para loucos é extremamente gratificante, pois tenho
sempre o orgulho de estar sendo vista pelos olhos de Deus.
Depois da
partida do Sr.Honório, pensei muito em tudo o que passei na vida e o que fiz
pelas pessoas e percebi que poderia fazer mais.
Em 2008
deixei de trabalhar dentro dos hospitais e intensifiquei minha luta pelos
hospitais, funcionários e pacientes que por eles passam. Sigo lutando muito
por uma melhora no atendimento médico hospitalar para a população, melhores estruturas nos hospitais, condições trabalhistas e por uma remuneração digna.
Cumpro meu destino e minha promessa ao Senhor Honório: continuo ajudando cada vez mais pessoas. Afinal
de contas, é mesmo como ele me dizia, sou um íma!
Feliz dia
da Enfermeira (o), da enfermagem também e a esses profissionais que mesmo sendo
sucateados e por muitas vezes escravizados, jogados de um lugar para outro, sempre
sendo culpados de todos os erros em hospitais e em outros lugares, também dedicam
sua vida para salvar vidas ou para dar uma dignidade humana no momento triste
de uma doença.
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