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sábado, 10 de agosto de 2013

Homenagem ao Dia Da Enfermeira(o) e ao Sr.Honório

Hoje, dia 10/08/2013 é dia da Enfermeira (o). Profissão que fiz parte do quadro de profissionais da área. Tenho orgulho em dizer que durante 23 anos foi minha profissão! 

Mesmo atuando juntamente na política por todos estes anos, sempre briguei muito pela classe como um todo. 

Fiz parte da comissão de funcionários de alguns hospitais onde trabalhei lutando pelos direitos dos funcionários e conquistei muitos amigos os quais alguns mantenho contato até hoje e de outros guardo recordações boas, outras tristes, outros que já partiram deste mundo...

Uma das recordações que me emociono muito foi em 2003, quando eu trabalhava no período noturno em um hospital municipal da zona leste. Até aquela época, boca dura que eu sempre fui, trabalhava em quatro setores em uma noite só: Central de Material, Centro Cirúrgico, Centro Obstétrico e sala de Emergência do PS.

A enfermagem para quem não sabe tem ainda três divisões de profissionais: Enfermeira (o), Técnica (o) de Enfermagem e o Auxiliar de Enfermagem.

Este hospital que citei da zona leste era e continua sendo muito solicitado pela população da região, então neste hospital entram muitos casos de ferimento de arma de fogo, arma branca, queimados, vítimas de acidentes de qualquer tipo, entre outros, até 2004 podia-se dizer que era o típico hospital de guerra. Eu sempre começava meu plantão pegando o serviço na sala de emergência e ia seguindo aos outros setores, pois na sala de emergência com 12 leitos a teoria é que ficavam três funcionárias, na teoria... Na prática éramos sempre duas e tinha rezar para que ninguém faltasse ao plantão. Não cito nomes para não deixar as (os) colegas constrangidas (os), principalmente uma das enfermeiras encarregada dos setores que me tratava muito mal, era com uma raiva e eu não sei por que, mas mesmo assim aprendi a gostar dela mesmo ela sendo homofóbica, lesbofóbica, transfóbica entre outras coisas. No meio de tanta ignorância, lá no fundo ela tinha também um lado humano e quando aprendeu a me ver com outros olhos passou a me respeitar e a me escravizar menos. Quero ressaltar aqui que eu nem tive um caso com ela, hein! kkkkk

Em uma dessas noites chegou um paciente com quem aprendi muito da minha vida espiritual, o Sr. Honório.
Ele deu entrada no hospital com parada cárdio respiratória. O Sr. Honório já havia feito várias cirurgias no coração e não me recordo ao certo se ele estava na fila para transplante esperando por um doador.

Como passou mal e o hospital onde o Sr. Honório fazia tratamento ainda não tinha uma vaga de leito disponível ele ficou ali. Lembro que ele tinha medo de dormir e morrer dormindo, riamos juntos dessa história, contei toda minha vida àquele homem de 72 anos e ele me contou a dele.

Os médicos me diziam que o quadro dele já era fechado, pois doadores eram difíceis. Então fomos nos tornando cada dia mais amigos... Um dia cheguei para trabalhar e os nove filhos dele, sim nove filhos, estavam lá, me abraçaram me agradeceram o carinho e o afeto que eu tinha com o Sr. Honório assim como também com os outros pacientes, mas o Sr. Honório era especial...

Dois dias depois, após uma hora de plantão o Sr. Honório teve a primeira parada cardio respiratório. Fiquei aflita e junto com a equipe conseguimos reverter o quadro que era incrível, pois o Sr. Honório voltava falando, durante os sete episódios. No oitavo e ultimo abriu seus olhos azuis, me olhou e disse “Filha, não me chame mais, estava num jardim lindo com os meus pais, irmãos e alguns amigos me recepcionando e só volto quando você me chama.” a equipe ficou perplexa, os dois médicos me olharam com espanto e o Sr.Honório continuou a falar “Cecilia, sei do seu sofrimento, mas acredite em Deus e em outra vida, continue a ajudar as pessoas como você faz sem olhar a quem, que todos os bons espíritos estão do seu lado, e eu minha filha, Deus me deu a oportunidade de te conhecer antes de eu fechar os olhos, estarei lá também te esperando quando for o seu dia da passagem.. sua missão esta apenas na metade. Não me chame mais, hein.” Respondi com um simples “está bem” e o Sr. Honório teve a sua ultima parada. Depois disso, mesmo com várias tentativas ele não voltou mais. Eu chorei muito aquela noite, no dia seguinte quando meu plantão terminou, dirigi até minha casa com uma dor imensa no peito.

Passaram alguns dias e recebi uma visita numa noite de plantão. Era a filha caçula do Sr.Honório, que me abraçou forte e me deu uma caixinha com um brinco lindo, ela disse que seu pai pediu que ela comprasse para mim, mas deixou claro a ela dizendo “quero que o brinco seja deste que homem também use e diga a Cecilia, minha filha que sempre estarei com ela e que é para ela continuar ajudando as pessoas mesmo com a ingratidão de alguns.

Bem Sr. Honório, continuo ajudando as pessoas e cá para nós, os hospitais públicos estão ficando cada vez piores, assim como algumas pessoas também...

Esta profissão, embora louca e também para loucos é extremamente gratificante, pois tenho sempre o orgulho de estar sendo vista pelos olhos de Deus.
Depois da partida do Sr.Honório, pensei muito em tudo o que passei na vida e o que fiz pelas pessoas e percebi que poderia fazer mais.

Em 2008 deixei de trabalhar dentro dos hospitais e intensifiquei minha luta pelos hospitais, funcionários e pacientes que por eles passam. Sigo lutando muito por uma melhora no atendimento médico hospitalar para a população, melhores estruturas nos hospitais, condições trabalhistas e por uma remuneração digna. 

Cumpro meu destino e minha promessa ao Senhor Honório: continuo ajudando cada vez mais pessoas. Afinal de contas, é mesmo como ele me dizia, sou um íma!

Feliz dia da Enfermeira (o), da enfermagem também e a esses profissionais que mesmo sendo sucateados e por muitas vezes escravizados, jogados de um lugar para outro, sempre sendo culpados de todos os erros em hospitais e em outros lugares, também dedicam sua vida para salvar vidas ou para dar uma dignidade humana no momento triste de uma doença.

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