Cura gay não existe, sou a prova viva disso.
É por isso que durante toda minha vida segui ajudando sem
patrocínio ou ajuda de ninguém vários homossexuais de todas as categorias lgbt.
Como já disse anteriormente em outro post, desde meus 13
anos vivi minha adolescência entre a casa dos meus pais, nas ruas, na antiga FEBEM
(porque naquela época, quem estava nas ruas era recolhido pelo juizado de menor
ou pela polícia militar e encaminhado para a FEBEM), casas de amigos e uma clínica
psiquiátrica, pois segundo meus pais este foi o ultimo recurso que eles
encontraram para que eu me “curasse” da minha homossexualidade nos anos 70.
Sofri muito nas ruas, dormia muitas vezes nas calçadas
das ruas da Praça da Sé e em outros lugares, revirei muito lixo para encontrar
alimento... Tudo isso graças ao preconceito.
Bem, muita gente poderá dizer “Isto não é motivo para
dizer que você desenvolve um trabalho social para a população lgbt!”, mas esses
são apenas os fatos que até hoje me impulsionam e me incentivam a cada dia para
ajudar a população lgbt.
Sei que hoje tem muitos heteros afirmando que são bissexuais
ou mesmo gays, para tirar proveito político ou partidário, mas acho que a nossa
população lgbt precisa pesquisar sobre as pessoas que brotam do chão dizem
ajudar e apoiar os lgbts. Mais que levantar a bandeira é preciso ter foco,
consciência da importância e trabalhar por isso.
Para quem não conhece meu trabalho seguem abaixo alguns
exemplos:
- · Ministro palestra sobre homossexualidade e sobre o consumo de drogas que não raras às vezes são utilizadas como meio de fuga das crises familiares causadas pela rejeição da família, assim como pelos conflitos que os adolescentes passam ao descobrir sua sexualidade.
- · Desenvolvo um trabalho de ajuda e orientação junto com a associação de deficientes auditivos, pois existem muitos lgbts com este tipo de deficiência que são esquecidos não só pela sociedade em geral como também desamparados pelo próprio meio, alguns deles portadores de HIV sem nenhum tipo de assistência e já com seqüelas da doença.
- · Aos deficientes físicos que necessitam de prótese e cadeiras de rodas, desenvolvo um trabalho pedindo ajuda em órgãos de doações.
- · Casos de homofobia, conto com ajuda de alguns amigos advogados que defendem nossa população lgbt.
- · Luto contra a discriminação no atendimento médico.
Um dos casos que me emociona citar é o
caso da minha amiga Jandira, que foi usuária de maconha e cocaína e que há 20
anos atrás pediu minha ajuda para largar as drogas. Sua mãe já havia falecido
após um câncer e na época Jandira só tinha 18 anos e a única familiar que
consegui apoio para ajudá-la foi uma tia, a qual procurei e fui conversar com
ela para que ela aceitasse a homossexualidade da sobrinha e não a deixasse na
rua a mercê de tantos desatinos. Depois de longas conversas, ela entendeu a situação
e passou a ajudar e apoiar a sobrinha.
Jandira passava parte do dia comigo me
acompanhando nos trabalhos que eu fazia na época e outra parte passava na
companhia da tia. Foi uma luta árdua contra as drogas, contra um possível ingresso
na vida da marginalidade, mas graças a Deus com muito empenho vencemos.A tia de Jandira e eu nos tornamos
amigas.
Atualmente, livre das drogas Jandira tem sua própria
casa, esposa e empresa. Tenho muito orgulho dela!
Posso também citar a Carla, uma trans,
que se encontrava internada em um hospital público de São Paulo sem conseguir o
tratamento cirúrgico de que necessitava, pois por várias vezes ficava em jejum
por 12/16 horas aguardando uma sala cirúrgica e cada vez que entrava na sala o
médico suspendia a cirurgia alegando que a cirurgia dela seria realizada outro
dia. O odor do quarto que ela se encontrava era fétido e a infecção que ela
havia desenvolvido em seu membro inferior avançava.
Amigos em desespero me procuraram.
Entrei em contato com a direção do hospital para saber motivo pelo qual a trans
era enviada várias vezes ao centro cirúrgico e retornava sem o tratamento.
Após 3 dias de discussão, obtivemos
vitória e Carla foi operada.
Existem muitos outros casos e fatos, com
vitórias e outros, é claro com derrota, mas a descrição de todos tornaria a
leitura cansativa, mas posso com orgulho provar todos os fatos.
Hoje sou Candidata Lésbica ao Conselho Estadual dos Direitos da População LGBT de São Paulo.
Entenda Melhor o Que é o Conselho Estadual dos Direitos da População LGBT de SP
Entenda Melhor o Que é o Conselho Estadual dos Direitos da População LGBT de SP
Minha luta é essa. Sozinha, sem
patrocínio e muitas vezes com muitas ameaças.
Essa sou eu e se precisarem de ajuda
sabem como me encontrar.
Cecilia Bezerra
Cecilia Bezerra no Facebook
Foram utilizados nomes
fictícios para preservar a identidade das pessoas envolvidas.
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