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quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Violência Contra as Mulheres Nas Ruas

Cecilia Bezerra

Violência contra a mulher está aí na cara de todos no dia a dia. Nas ruas, nas casas, no silêncio do quarto ou mesmo em um olhar triste de uma mulher que já perdeu as esperanças de uma vida de ser amada e feliz!

Muito triste as estatísticas de violência contra a mulher da qual quase fiz parte dela cerca de uns dias atrás. Sou mulher e lésbica sim, mas isso não me tira da condição de mulher que sou. Meu caráter, meu eu, só me enobrece, tenho orgulho do que sou, ajudo muita gente independente de sexualidade, cor, religião, faço muito mais pelo próximo do que muitos falsos moralistas...

Ah! Alguns dias atrás fui com uma amiga em uma clínica da zona leste fazer uma visita para um senhor, uma visita humanizada, ao sair de-lá após um café me dirigi a outra visita, agora sozinha...

Fiz a visita. Ao sair desci uma rua, era um dia muito frio e eu estava com gripe e a rinite atacada, além de dor de cabeça. 
Então decidi pegar um táxi em uma rua no bairro do Tatuapé.
Avistei um ponto de táxi, o único nessa rua onde só havia uma carro parado, um Renault Duster branca.

O vidro estava fechado, bati de leve no vidro, era o único no ponto, o motorista sentado em seu banco abriu a porta sem olhar para trás, apenas olhou pelo o retrovisor e me perguntou: 
__ Onde você vai? 
Percebi a cara fechada de poucos amigos e respondi num tom baixo.
__ Sei que é perto, mas eu preciso ir até o metrô Tatuapé. Este frio está me matando, estou com a rinite muito ruim, acho que é crise alérgica e muita dor de cabeça.
Eu já sabia que a corrida daria mais ou menos R$ 12,00, pois do metrô até o local que estava paguei este valor.
__ Tem trocado? - perguntou o motorista de forma bem rude.
__ Tenho dois reais, mas eu desço e troco se for o caso. 
Eu tinha R$20,00 e uma nota de R$ 2,00 reais, na tentativa de ser amigável, pois estava passando mal, tentei explicar até a pouca distância .
__ É que estou estourando de dor de cabeça...
__ Olha aqui! Hoje eu estou com o saco cheio. O povo reclama de crise, mas todos entram aqui com notas de R$.50,00 reais. 
Desce! Eu não irei levar! - desta vez ainda mais agressivo.
__ Senhor, minha nota é de R$20,00 reais. Em frente do metrô tem um bar, eu troco. É que estou me sentindo mal... 
E mesmo assim ele disse para eu descer.
__ Nossa, senhor! - e fui abrindo a porta. Eu iria trocar. O senhor está com uma má vontade hein... 
Desci.

Eu ia andando quando senti que a porta se abriu, o motorista saiu possuído gritando vários palavrões. Peguei o celular para gravar, ele abriu o porta mala para que eu não visualizasse a placa... Aí ferrou! O homem enfurecido gritava ainda mais palavrões e caminhava rapidamente em minha direção. Parou um táxi no mesmo ponto, eu às pressas perguntei se ele poderia me levar até o metrô e ele notando a investida do seu amigo de ponto num tom sarrista disse que não podia me levar porque estava com o dentista marcado e já estava saindo ainda indaguei dizendo que ele havia acabado de parar...

Continuei caminhando e ao chegar num cruzamento percebi o louco atrás. Foi aí que quase levei uma rasteira. Ele queria pegar meu celular que caiu no chão e eu rápida peguei de volta, mas quebrou o vidro.

Notei que mulheres e homens passavam e assistindo a cena ninguém fazia nada. Na confusão me esquivei por várias vezes das agressões. Agradeci neste momento por ter feito artes marciais há alguns anos atrás, pois isso me salvou de ter levado uma surra. Fiquei com cuidado, pois todas as vezes que eu esquivava e saia das agressões ele colocava a mão na cintura por debaixo da blusa como se fosse pegar alguma coisa para me atingir.

Então apareceu um outro motorista de táxi que estava em um bar da esquina e o dono deste bar pediu para que ele me socorresse. 

Quando entrei no táxi o louco ainda tentou abrir a porta, o motorista deste táxi justificou para o enfurecido:
__ Foi o dono do bar que pediu pra mim pegar ela. Vá tirar satisfação com ele!
Durante o caminho, este outro taxista contou que é comum este homem agredir as pessoas (principalmente mulheres),
que é super agressivo, ignorante e que até ele tinha medo dele, mas que infelizmente este é o atual fiscal do ponto...

É fácil para ele dar uma de machão. Se eu não tivesse feito algumas artes marciais e não tivesse algumas habilidades até hoje, ele teria me batido feio.

Infelizmente ele não é o único que anda pelas ruas descontrolado descontando suas raivas e frustrações nas mulheres, e é que nem xinguei, já pensou?!

Bom... Não consegui a placa e nem o nome do maluco, mas denunciei a localização do ponto e já estou tomando outras providências. Deixo claro que não tenho nada contra taxistas, muito pelo contrário, ajudo muitos com orientações relacionadas à profissão ou mesmo quando um familiar ou ele mesmo tem seu direito ao tratamento de saúde negado. Nada contra os homens que respeitam as mulheres. 

Tenho certeza de que um passageiro do sexo masculino não teria passado o que passei, até acredito que ele o teria levado, trocado o dinheiro e ainda se desculpado por não ter troco... 
Fico imaginando uma mulher adolescente, adulta ou uma idosa que não saiba se defender, desviar de socos e chutes... Com certeza teria apanhado muito.

O que me deixou mais espantada é a indiferença das pessoas diante de uma agressão, até mesmo de outras mulheres. 

Ano passado, 503 mulheres foram vítimas de agressão física a cada hora no país. De acordo com o Mapa da Violência, os atendimentos a mulheres vítimas de violência sexual, física ou psicológica em unidades do Sistema Único de Saúde somam por ano 147.691 registros: 405 por dia, ou 1 a cada 4 minutos. A maior procura por serviços de saúde após casos de agressão dá-se entre adolescentes de 12 a 17 anos. 

Tomei minhas providências. Tome a sua! A vocês que sempre me procuram quando sofrem violência sexual, agressão física, assédio moral entre outras, sigam minha orientação e denuncie o agressor.

Luto para que seja criada mais leis complementares à Lei Maria da Penha com projetos mais severos, eu tenho o meu e espero algum dia colocar em prática.

A violência contra a mulher não pode ser lembrada apenas em datas "comemorativas". Peço ação. Casos de violência desta natureza muitas vezes tem seu aprendizado maior dentro de casa, quando quando o filho cresce dentro de um sistema violento onde a mãe ou irmãs não são respeitadas pelo pai que é machista e trata as mulheres como seres inferiores.

Não somos inferiores, pois este que covardemente agride uma mulher e chega até a matar, se esqueceu que precisou do ventre de uma mulher para nascer e provavelmente nunca respeitou nem mesmo a própria mãe!


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